Nonada.

“Conheci uma senhora, já de cabecinha branca, que foi a primeira namorada do Rosa. Contava que quando ele chegava em lugar estranho, antes de sentar, dobrava o corpo pra frente e espiava por entre as pernas. Ela brigava:

– Que doideira é essa, João?
– Tô vendo o mundo ao contrário.

Vai ver que estava.”

Comentário feito pela Maria Helena Nóvoa, nesse post de Paulo Bicarato, sobre os 50 anos de Grande Sertão: Veredas, no site Bombordo.

Cultura do Medo

Não lê. Aviso antes porque sou teu amigo – não leia.

Me conforta o fato de existirem lugares onde não se vêem cercas elétricas, câmeras, guaritas, muros imensos, placas estúpidas me pedindo para sorrir… Gosto de pensar que um bando de gente nunca vai experimentar a alegria de viver sem medo. Escondem-se por trás de blindagens, cercas, armas, cursos de conduta defensiva – tudo por uma “sensação de segurança”, que opõe-se à sensação irmã de insegurança.

Não estou negando os assaltos, os seqüestros, os roubos, as mortes, não. Ora, por favor, é tudo óbvio, fato irrefutável. Roubam-se tapes de carros, né? Roubam-se.

Penso que, no entanto, há diferentes formas de se encarar essa problemática toda. A gente pode pensar em economizar para a blindagem do carro, pode votar no candidato que promete mais polícia na rua, pode construir um bunker dentro de casa, pode, claro que pode, pode até andar armado e atirar se for preciso. A gente pode, também, ignorar; mexer no CD do carro no exato instante em que alguém se aproxima do vidro tentando conversar.

Ou a gente pode preferir a porta aberta, a conversa no portão, o cinema à noite – o lado de fora do claustro.

Poucos lugares freqüentados por quem tem dinheiro são realmente confortáveis, acolhedores, agradáveis. A maioria dos outros, correspondentes à outra ponta da corda, muito pelo contrário, é praticamente feita de tudo isso. Não se vê muitas portas fechadas numa favela.

Defendendo bandidos? Haha. Ora, por favor. Defendendo minha idéia de um domingo feliz, pra mim, daqui uns trinta anos. Se eu tiver que acionar unidades blindadas do Exército pra poder sair da minha fortaleza e ir à banca da esquina comprar figurinhas pro álbum da Copa pro meu moleque, achando tudo muito normal e corriqueiro, a minha idéia (que não ofereço a ninguém) terá morrido em algum lugar no meio do caminho.

Olhar para o problema com o enfoque na ponta das conseqüências, na ponta das “reações necessárias” e esquecer a outra ponta, a das causas, não ajuda na sobrevida da minha idéia.

Assista, se puder, ao documentário “Violência S.A.”.

Leu? Não me encha, eu avisei.

Champagne na faixa… o/

Publicitários: uma “fauna” de pessoas muito, muito engraçada. Eles falam alto, eles se vestem com extravagância, eles se cumprimentam com beijos na boca… A parte chata: tropeçam em seus egos, nos alheios, nos garçons – não enxergam garçons. O denominador comum: eles precisam de atenção e de paparicos o tempo todo. Duas vezes por dia um deles, que usava um tênis de bico fino, porque eu vi, paga duzentos reais pra que uma moça o intercepte na rua – num lugar previamente determinado durante o briefing da farsinha – e lhe cubra de elogios, se jogue aos seus pés, lhe chame por nomes que elevam o espírito dos passantes, elogie a sua última campanha e, no fim, peça pra tirar uma foto dele no seu novíssimo e caríssimo celular da Motorola. E ele nem era o mais alto guru que estava ali, mas seu tênis de bico fino chamou minha atenção irremediavelmente durante todo o tempo em que fiquei lá. Publicitários se amam. Publicitários deveriam ser estudados pela ciência – uma nova espécie de Homo sapiens, sei lá. Os altos gurus não falam: as pessoas falam por eles. Esses senhores limitam-se a sorrisos para os fotógrafos, beijinhos (dois, que estamos em São Paulo e esse negócio de três beijos é coisa de bárbaros), alguns poucos apertos de mãos, conversas no celular e testa levemente franzida, como que dizendo “Lamba minhas bolas” o tempo todo.

É um outro mundo. Pessoas que comentam sem qualquer melindre sobre o café de cinco dólares que tomaram em Tóquio, sobre o brioche de oito euros na França – “pertinho do meu apartamento no Marais”. Aliás, o Marais, o quarto arrondissement lá de Paris, deve ter tantos desses… E pensar que no começo do século XX aquilo era um cortiço de operários. Hoje é o bairro mais fashion da cidade.

Mas eu não fui lá por causa dos publicitários e seus mega-egos. Fui lá por causa da minha menina, fui vê-la em sua primeira exposição. Primeira de muitas. Elisa Sassi. Dá uma olhada.

Fascinação

  • Óglaigh na hÉireann. Dito assim, “Irish Republican Army” nem parece tão mal.
  • Euskadi Ta Askatasuna. Em basco, “Pátria Basca e Liberdade” soa absolutamente beligerante.

O gaélico irlandês e o basco. O primeiro parece a língua dos elfos, criada pelo J. R. R. Tolkien – Quenya; a segunda me remete a tempos passados, quando as línguas não tinham ainda se liberado de seu estado mais bruto, ressoa dura em meus ouvidos.

Dois grupos que mataram centenas de pessoas em nome de um ideal: Liberdade. Transcrita de outra forma, auto-determinação dos povos, mas ainda assim, Liberdade. Aos bascos, uma luta pelo reconhecimento de um passado tão antigo quanto sua língua. Aos irlandeses, a vontade de uma Irlanda única.

O que define um terrorista? Seus métodos? Nossos medos?

Dominação aterrorizadora. Lutas aterrorizantes. Mortes que aterrorizam. Liberdade, enfim.

O plural no basco se faz com o acréscimo de um -k no fim.

Conas atá tú? / Zer moduz? – “Como vai você?”, em gaélico e basco.

Conto I

Sempre tão grave, tão austero, aqueles senhor jamais demonstrava qualquer alegria em público. Não o viam como alguém triste – era apenas uma pessoa séria. E sério ele próprio se considerava. Por que ir contra ao que todos diziam? Quem melhor do que os outros para dizer-lhe o que poderiam achar as outras pessoas? Sério – era assim que o viam, era assim que ele próprio aprendera a se ver.

Como todos nesse mundo, esse senhor de quem falo tinha lá seus segredos. Coisas bobas, quase inofensivas, que só fazia quando se encontrava realmente sozinho. Que fosse por vergonha ou preguiça prévia das muitas explicações que teria que dar, só as fazia escondido.

Assim que chegava em casa, no fim da tarde, deixava em cima do sofá da sala os jornais comprados de manhã, a pasta com os papéis da escola (era diretor), jogava a gravata a um canto, os sapatos noutra direção… Aquele calor infernal incomodava tanto, mas tanto, que se rezasse (porque não rezava desde a morte da esposa) pediria a Deus por um alívio na temperatura – ou uma folga maior do salário que o possibilitasse comprar um novo ar-condicionado. O antigo quebrara há alguns meses, quando ainda era inverno… esquecera de arrumá-lo – e agora já não tinha mais jeito, o técnico havia dito, auxiliado por alguns termos obviamente técnicos que nosso diretor não entendeu. Divago.

Ao lado do aparelho de som antigo encontravam-se algumas, não, minto, muitas pilhas de LPs. Bolachões que a imensa maioria dos alunos da escola onde trabalhava nunca vira. Tinha de tudo – era “eclético”, seja lá o que isso for -, mas tinha especial carinho por dois ou três discos.

E, quem diria? Descalço no meio de uma sala ampla, sozinho, um copo de água com gelo e limão numa das mãos, nosso senhor sério dubla animadamente as músicas que a vitrola toca. É uma cena quase cômica. Os cabelos embranquecidos subindo e descendo, pra lá e pra cá, em movimentos bruscos, quando ele mexe a cabeça com mais ímpeto, para demonstrar fielmente toda a força do verso que um cantor cubano (tão antigo quanto os discos) declama, entremeado por chiados e estalidos, típicos dos antigos vinis.

Ai, se algum aluno descobre! Seria o fim de uma carreira construída a duras penas. Mas, claro, como alguém descobriria? No máximo pensariam que o diretor, afinal, não é uma rocha fria como todos pensam: gosta de música. Latina! Com maracas e bongôs! “Quem sabe até batuque as partes mais rápidas no braço da poltrona onde deve se sentar” – pensariam. Nada além disso. Quando o medo de ser pego crescia absurdamente, parava por alguns instantes e dava uma corrida até a janela, se encontrava alguém, costumava dar um aceno rápido e tornar ao interior da casa, fechando a cortina.

Era sério, nosso diretor. Ora como não?! Seriíssimo. (E dançava muy bien, por supuesto…)

The Day After

Estive em Ribeirão Preto ontem. Deixei em casa uma mãe repleta de medo. Levei comigo apenas uma meia-muda de roupa – e me arrependi. Levei também uma garrafa d’água e o Grande Sertão: veredas, que ando lendo (finalmente, e me apaixonando).

Ando sempre com uma garrafa vazia e encho-a sempre que posso. A idéia de comprar água, não me desce muito bem. Prefiro consegui-la em bebedouros gratuitos. A que esteve comigo ontem se perdeu de maneira irremediável. Ficou tão suja que serei obrigado a substituí-la por outra – dois anos depois e um pouco contra minha vontade. Aquela garrafa já fazia parte da família praticamente.

Ribeirão Preto é conhecida por um monte de coisas. Tem gente que a chama de “a Califórnia brasileira”, por conta daquele costume que a gente tem de ficar sempre e o tempo todo comparando nosso país com outros pra dizer que um pedaço dele é melhor ou que outro nem tanto… Coisa de brasileiro – viva-se com isso. Tem outras gentes que associam Ribeirão àquela chopperia famosa (e cara), o Pingüim. Eu, particularmente, sempre vou me lembrar de Ribeirão Preto como a terra do latossolo vermelho. Ah, eu sou geógrafo! Dá um desconto… Latossolo vermelho é a famosa terra-roxa, que, quando o tempo está seco (situação constante na nossa Califórnia), se transforma num talco vermelho, que entra nos lugares mais improváveis. Minha meia, pelo que sei, perdeu-se definitivamente. A quantidade de pó que saiu de meu cabelo quando cheguei em casa, encheria facilmente um daqueles silos de armazenamento agrícolas.

A mãe preocupou-se quando soube que eu iria até Ribeirão pra visitar uma feira de implementos agrícolas (chamada Agrishow, e não por acaso). Com certeza pensou em bombas explodindo nosso ônibus, projéteis atravessando a lataria e acertando em cheio o peito de seu filho, um bando de estudantes seqüestrados pelos meliantes – que nos trocariam por mais algumas TVs, uniformes mais in, diretores menos fascistas – e, provavelmente, não curtiu a idéia de me ver aparecendo no Jornal Nacional contando meus desesperados momentos nas mãos dos bandidos, antes da chegada dos policiais. Ela tinha suas razões. Razões de mãe, mas ainda assim, razões.

Tentei acalmá-la da melhor forma possível na segunda, quando saí de casa de carro, com meu pai, e me dirigi célere a uma Unicamp evacuada, deserta, vazia como eu nunca tinha visto. As pessoas saíram correndo tão rápido que luzes dos prédios foram deixadas todas ligadas, pertences ficaram pra trás, algum bom-senso sujava o chão, escorrido de algumas cabeças, até uma quentinha foi deixada em cima da mesa de uma lanchonete, esquecida, intocada: retrato de um pânico que se generalizou não apenas na Unicamp, mas por toda a cidade (e não apenas Campinas). Pessoas correndo, com medo, fugindo de bombas que não explodiram, de tiros que não foram disparados, de boatos que se tornaram imensos monstros gosmentos… Assustadas num tanto que extrapolou os limites da razão.

Na Agrishow, vi shows de máquinas agrícolas que me acostumei a ver apenas na TV e citadas em textos que leio para as aulas da faculdade. Engenhos impressionantes, com funções tão específicas e detalhadas que por vezes é difícil até de explicar todas as suas possibilidades numa única tarde de evento. Trabalho fantástico de engenheiros muito aplicados, dedicados e, ahm, bem, engenhosos. Era um imenso comercial ao estilo 1406 a céu aberto. Milhares de fazendeiros andando pra cá e pra lá com seus chapéus de cowboys e de peões australianos (manja o Crocodilo Dundee? Virou moda.), fazendo suas piadas infames – característica que os identifica e os une enquanto fazendeiros milionários -, sendo atraídos para dentro dos estandes por um exército de modelos lindíssimas, contentes em sua função de “cabides de folders“, rebolando na entrada dos espaços – só faltou o gancho de açougueiro segurando-as pelos colarinhos muito bonitinhos. Não posso deixar de registrar que no começo gostei de ver tantas moças bonitas juntas, mas depois de algumas horas, comecei a me sentir um pouco mal com tudo aquilo. Uma opulência sem fim. Caminhonetes de 150mil reais disponíveis para test-drives, tratores de 300mil reais com cabines pressurizadas, ar-condicionado, piloto automático guiado por GPS, aviões de pulverização vendidos (efetivamente) por 650mil reais, sem muito melindre. Os organizadores demonstravam as infinitas possibilidades daquelas naves espaciais numa fazenda próxima, cultivada especialmente para a feira anual. Enfim, um desbunde.

Volto, acalmo minha mãe, vejo que o governo “sentou pra conversar” com o PCC e que nisso encontraram meios de terminar com o levante, me despeço tristemente de minha garrafinha, transformo o chão do banheiro num rio de lama vermelha… E descubro, com um certo pesar, que o mundo gira numa marcha diferente para aquelas pessoas. Absolutamente diferente.

Bolão

Acabei de mandar um email pra dois professores meus convidando-os para participar de um bolão da Copa que eu e alguns amigos da faculdade estamos organizando.

A relação aluno-professor dentro da universidade vem sempre acompanhada de uma névoa estranha, leitosa, real, que não deixa a gente (alunos) se aproximar deles com uma intimidade um pouco maior. Claro que tem que existir um certo respeito, afinal, os “pouca-merdas” (uma palavra nova) somos nós, só que eu nunca me dei muito bem com essa hierarquia imensa e arraigada que existe ali (como existe em outros lugares, nas Forças Armadas, por exemplo, que não precisei servir; ainda bem), então sempre que pude, durante esses cinco anos, tentei quebrar isso (com algum sucesso, vez ou outra). Essa é mais uma tentativa.

Em poucos meses, deixarei de ser aluno e me tornarei colega de profissão dos dois geógrafos. Não vejo mal algum. Espero que eles também não. Tenho a meu favor o fato de ter uma certa intimidade com eles. Um outro professor já está na lista dos apostadores – isso talvez ajude, também.

Aliás, se alguém ler esse post e quiser participar, é só me avisar. No fim, a pessoa que ganhar precisa reverter uma parte da quantia das apostas em diversão pura (leia-se: mesa de bar e afins). Pra quem mora longe fica difícil essa parte, mas se quiser apenas se divertir chutando placares de jogos e possíveis classificados para as oitavas-de-final, que fique à vontade.

No limite…

Eu não assisto a todos os filmes que gostaria no cinema. Em alguns casos isso tira um pouco da graça do filme, noutras nem tanto. Filmes pipoca precisam do cinema. Filmes nem tão pipoca assim, não. Ano passado, puta pindaíba, não assisti a nenhum – ao menos, nenhum dos que concorreram ao Oscar esse ano. Entre eles, Crash.

Não gosto de saber a história do filme antes de assisti-lo. É quase cômico me ver fugindo das resenhas e opiniões daqueles que viram antes de mim. Mas nesse caso, no caso de Crash, não consegui e ouvi bastante gente opinando. Entre aqueles que opinaram, alguns disseram que o filme seria um amontoado de clichês, o que o tornaria extremamente generalizante, banal, coisas assim.

Assisti ao filme hoje. E, sim, ele é feito de clichês, de generalizações. O negro, o latino, o oriental, o turco (confundido com árabe), o branco… É uma generalização da sociedade norte-americana. Óbvio. Não, eu não vou inventar a roda. A única coisa que quero acrescentar às análises do filme, tanto tempo depois, tantos adendos depois, depois de tanta gente ter falado, é o seguinte: criticar a generalização do filme e esquecer o retrato (nada ficcional) que ele mostra, é tapar o sol com peneiras bestas e preferir não ver a mensagem que esses “clichês” todos passaram no 1º de maio último.

Sem discursinho… só um adendo extemporâneo.

Há que se olhar aquele país com olhos menos odiosos e, também, menos admiradores. É uma nação fantástica, que tem em sua gênese as melhores aspirações que séculos de conhecimento humano produziram, que tem por princípio básico a liberdade acima de tudo (nem um idioma ofical previsto na constituição eles têm), mas que tem problemas graves, sérios, acobertados ou excessivamente mostrados – depende de quem segura a manta. Os Estados Unidos é, em tese, o melhor que se pode ter em termos de democracia, mas vê todas essas conquistas ameaçadas por fanatismos ideológicos de toda sorte (o presidente Bush resiste à idéia de traduzir o hino nacional para o espanhol dos imigrantes latinos, apesar de não haver idioma oficial determinado na constituição).

O Pedro Dória, no NoMínimo, escreveu sobre esse aspecto da história contemporânea dos EUA. Não quero me comparar a ele nem a ninguém. Só escrevi o que pensei depois de assistir a um filme que distrincha os clichês formadores da sociedade americana e (principalmente) a relação da sociedade com ela mesma…

Comentário postado no site sobre futebol da Lelê, …

Comentário postado no site sobre futebol da Lelê, “Invendável e imprestável“.

Tive medo. Ainda mais porque ouvi no rádio – não tenho TV por assinatura – e, portanto, precisei imaginar tudo. Tive medo pelos torcedores, medo pelos policiais (que não tinham nada a ver com o imbróglio), medo pelas pessoas outras que não participaram da revolta mais óbvia, medo de pensar que eu iria me sentar na arquibancada amarela (e eu estava feliz por isso, ia cantar com todos os gaviões, fazer parte de tudo aquilo). Tive medo por saber que você estava lá, Lelê… A cada repetição das imagens na TV, no “day after”, só conseguia ficar ainda mais triste. Pensei em cada um daqueles caras da Gaviões levando borrachada, pensei no policial que se machucou sério, pensei nos pais que nunca mais levarão os filhos a estádios – como o meu não me levou -, pensei em tanta coisa. Não tenho vergonha pelo que aqueles caras fizeram. Em momentos como aquele a cabeça esquenta, o sangue ferve, a razão se esvaece. Fica a raiva. A indignação. A humilhação por ter perdido em casa para o mesmo time que nos tirou da Libertadores noutra época, cujo treinador saiu fugido do Corinthians há um ano. Mas vergonha por ser corinthiano, nunca. Preferia que a raiva tivesse sido transferida para outros protestos – necessários -, que talvez resultassem em algo mais concreto.

O Dualib precisa sair, o Kia precisa sair, a democracia precisa reinar no Corinthians mais uma vez. Se eu tivesse pulmões suficientes, gritava pra que todo mundo ouvisse e chamava todo mundo à razão. Razão que falta nessas horas – eu entendo e por isso não me envergonho jamais; apesar de não concordar com vandalismos. Prefiro acreditar que o Corinthians será sempre maior que fanatismos, desonestidades, falcatruas, ladroagens e permanecer firme no propósito de amar esse time como sempre amei.

Lelê, espero que você se recupere da melhor maneira possível e que me perdoe pelo imenso comentário – não quero fazer dessa sua caixinha (mais) um palanque. Eu só precisava dizer.

Beijo, abraços.

Um corinthiano.

Como eu queria pulmões mais fortes, mãos mais firmes, braços longos; queria poder fazer algo que realmente resultasse em mudanças. Mas talvez apenas por querer, por ser diferentes daqueles que efetivamente podem, eu seja um elo a mais numa corrente – que, unida, pode.

Não importa como ou por que, importa que é sempre. Apesar dos pesares.

Paixão.

Eu não vou, já é fato. O carro consertou-se, mas não há ainda confiança no tal conserto, de modo que não verei ao vivo o jogo nem tampouco verei duas amigas. Ficarei em casa e daqui sofrerei todos os cinco mil e quatrocentos segundos regulamentares. Tenho falado muito sobre futebol. Na verdade, creio que nunca vibrei tanto com o jogo quanto faço agora. A cada qual sua época. Pensando friamente, preferia ter despertado antes, anos antes, anos que, vistos de agora, de longe, parecem mágicos, dourados. Não vivo há tanto tempo assim, desde 1984, apenas. Os mais velhos, com certeza, devem chorar com mais propriedade a passagem do tempo, que levou para sempre jogadores, jogadas, craques, seleções, times… Como vivo hoje – se apenas hoje me encontro desperto para o futebol -, é com tudo o que acontece hoje, da maneira como acontece, que preciso me virar.

Tenho medo de afirmar demais sem ter o conhecimento devido, mas sei que o futebol de hoje em muito pouco se assemelha ao futebol jogado décadas atrás. De um modo quase fantástico, décadas atrás o futebol parecia ter um caráter menos profissional do que hoje. Brincava-se em campo – ao menos é essa a impressão que tenho quando vejo, por exemplo, a seleção de 1982 jogando, aquela que teve (o saudoso) Telê por técnico, Sócrates, Falcão, Toninho Cerezo, Júnior no plantel. Posso estar enganado, claro.

Agora, sem medo de errar, uma coisa eu sei que não mudou. A paixão que sentimos por esse jogo e, principalmente, como sentimos essa paixão. É ainda a mesma coisa. Ainda que se diga contra os clubes, contra os jogadores, contra a própria administração do futebol brasileiro, apesar de tudo isso, a paixão de quem torce é a mesma. Ouço as histórias que minha mãe conta sobre o antigo Corinthians (da quebra do jejum em 1973, da invasão do Maracanã, dos toques de calcanhar do Doutor), tingidas por pinceladas fortes, típicas de uma torcedora apaixonada, e traço paralelo inevitável com histórias que eu mesmo vivi, que amigos viveram… São muito semelhantes – na verdade, só não são idênticas porque se passam em épocas diferentes, mas falo do sentimento que move tudo.

Hoje, 2006, o Corinthians é 51% MSI. A administração Dualib perpetua-se. Tem iraniano (e russo) no samba. Alguns jogadores do time não me agradam, ou como costumamos dizer aqui em casa, não são corinthianos o suficiente pra honrar devidamente o peso e a tradição de quase cem anos de clube. Os meninos de Itaquera não são mais a prioridade. E no entanto…

No entanto, por suposto, enlouquecerei amanhã. De amor, raiva, alegria, paixão, destempero, ódio, felicidade, plenitude, vazio… Não conheço nenhum outro jogo que me inspire tantas emoções – conflitantes por vezes – num espaço de tempo tão reduzido. Sinceramente, não imagino outra cena amanhã, a partir das 21h45, que não seja a seguinte: eu, sentado no sofá, mãos e pés gelados (e não por conta dos 10ºC que enregela tudo, tanto aqui dentro quanto lá fora), bandeira sobre as pernas, e mais nada. Em volta, nada, absolutamente nada. O mundo reduzido ao Pacaembu, aos dois times, à minha televisão e à minha consciência, completamente embotada e alheia a tudo o mais.

Não me peçam racionalidade nesses noventa minutos. Não me peçam atitudes coerentes. Não me peçam, sequer, calma. E veja, esse não é nem o jogo mais importante do torneio, que vai se estender até depois da Copa do Mundo. Quando digo que vou morrer, não estou brincando.

É uma vitória simples, em casa, junto de mais de 40mil corinthianos ali, cantando, chorando, gritando, xingando, mas principalmente, apaixonados pelo espetáculo e por um time – como acontece com tantos outros, é fato. Mas, vai dizer, Corinthians é sempre Corinthians.

*borboletas no estômago*

murphy

Blog confessional tem (que ter) limite.

(Preciso me acostumar com isso.)

É amanhã o jogo do Corinthians e eu estou ameaçado de não ir porque o carro quebrou e tal. Carros adoram quebrar quando mais preciso deles. Pra subir uma serra vindo da praia, em dias de prova na faculdade, domingos ensolarados, terças-feiras chuvosas… eles quebram, assim, puf, e quebrou.

Era Leda e Leonor. Talvez seja só meu desespero em frente à TV. Malditas máquinas. Elas quebram. Acho que isso faz parte daquilo que elas são, não?, quebrar. Vão se desgastando, se moendo, remoendo, se trucidando, se aquecendo, se roendo, se matando. Máquinas burras. Pelo simples fato de ser máquina, me dá vontade de socar o liquidificador. No computador eu não bato – máquina gente boa, me dá coisinhas de presente; eu lhe prometo uma HD nova, ele funciona bem, nem faz barulho. Nos damos bem, eu e o PC. Agora, carros… Malditos.

Olha o nome da música que tá tocando: “Viðrar vel til loftárása“. Sei que tem algo a ver com avião. Loftárása não lembra Lufthansa? Ou é coisa da minha cabeça? Lufthwaffe. Coisas assim. São germânicos, não? Se entendem. Airplane. Talvez Flugzeug também seja uma união simples de duas outras palavras que, no fim, remetam a “avião”, como no inglês, mas em alemão é sempre tão mais imponente. Já disse que acho ridículo (aquilo que é motivador de riso, veja bem) quando algumas pessoas intercalam expressões inglesas entre os textos em português? Nunca disse? Eu me comporto, sempre rio baixinho quando vejo. Elas se acham tão importantes, essas pessoas. Mudou de música. Olsen Olsen, agora. E depois vem uma das minhas preferidas, Ágætis byrjun.

Tenho pensado muito naquilo que tento esquecer todos os dias. Acordo tentando esquecer, e o Camelo já disse, eu já repeti, mas digo outra vez: não pensar já é pensar. Então, penso. Desisto. Ah, desisto… Se é pra pensar, pensar, pensar, que pense. E que enlouqueça, já não me responsabilizo.

Se eu enlouquecer, me internem num lugar que dê vistas para um lindo lago, por favor. É um pedido. Anota aí. Não deixa me internarem num lugar sem janelas. Onde não tem janela não tem luz e sem luz… bom, deixa pra lá.

Já viu isso? Ela gostou bastante. Haha. Foi ao cinema sozinha… Podia ter me chamado. Podia mesmo. Não! Não é a mesma, não… Vê? Já enlouqueço.

Vai…