Eles se deitam na cama, vestidos com roupas simples: ela numa calça moleton, ele numa camiseta puída. Ela do lado direito, ele do lado esquerdo (de quem também se deitasse na cama). Conversam e se entendem e encontram similaridades. Ambos insones, num país extremamente diferente, sem entender a língua, solitários… É uma história como qualquer outra, que poderia acontecer em qualquer lugar, com qualquer um, mas nessa cama, eles se deitam e conversam e nisso encontram a paz necessária pra se deixar levar pelo sono que vem e que interrompe a conversa no meio. Antes de se perder no sono, ele ainda titubeia e põe a mão direita sobre o pé direito dela – que se encontrou com sua perna, porque ela deitou-se de lado, olhando pra ele.
Eu não saberia dizer objetivamente o que esse filme tem de tão especial. Tem essa cena. Tem a seqüência do alarme de incêncio, quando ela pede pra que ele fique e eles têm duas chances de se beijar no elevador – ou de não se beijar, porque há todo um peso por trás da possibilidade do beijo. Tem a seqüência do karaokê, um cantando pro outro – e ao mesmo tempo não cantando. E, claro, tem a seqüência final, quando ele salta do táxi e sussura qualquer coisa no ouvido dela. Pode ser qualquer coisa! O número de telefone, seu endereço nos Estados Unidos, um adeus mais prolongado, o aviso que antecede o beijo que vem… qualquer coisa. Ele sorri, ela sorri.
Toca The Jesus and Mary Chain e eu venho pro computador querer uma Charlotte pra mim.
Entendo que ele não tenha esse efeito entorpecedor em todo mundo, mas não entendo por que ele faz isso comigo. E não importa quantas vezes eu já o tenha assistido.
Perfeito. É um filme perfeito. É o meu filme perfeito. Com a minha mulher perfeita. Com o humor, a alegria, a tristeza latente, o amor singelo, a amizade… todos perfeitos, pra mim.
I’ll be your plastic toy
For you
Eating up the scum
Is the hardest thing for
Me to do
Just like honey
(x 17)