A Isa foi pra Buenos Aires, e provavelmente esse é o último movimento relevante desse ano genial que foi 2005. Um ano que teve de tudo. Picos de alegria, a mais plena; profundos vales de tristeza, escuros e infinitos. Porque, enfim, eu sou assim: uma inconstância que perambula quieto pelo mundo. E tudo bem. Tudo bem hoje, quer dizer – agora que já sei mais ou menos como me controlar. Como me defender de mim mesmo. Então, mesmo que o dia amanheça negro, carrancudo, eu já sei como transformá-lo e torná-lo adorável. O que coloca essa minha condição inconstante na prateleira das minhas (muitas) excentricidades. E ok. Vivo bem com isso.
Nesse ano eu, finalmente, consegui arrancar o meu projeto de iniciação científica do armário. Ninguém vai me dar dinheiro pra tocá-lo em frente, então, faço sem o dinheiro. Faço por definitivamente (assim, sem dúvida) gostar de verdade dessa história toda de investigação científica. Amor pela ciência? Acho que seria ir longe demais. Mas é algo que se assemelha a isso, no entanto, sem a efemeridade das paixões. É um troço concreto, uma vontade muito forte – e que vai gerar frutos.
Foram quatro anos trabalhando para meu pai. Quatro anos. Desde quando entrei na faculdade, até, hm, dia 27 de dezembro, quando descobri que fui um dos selecionados num concurso público. É um estágio, com prazo de validade de seis meses, mas, ah!, que delícia pensar que estarei utilizando num trabalho meu, conhecimentos que adquiri nesses anos de Academia. É uma sensação nova de liberdade, que me induz a não ter maneios com relação ao que vem pela frente. Há apenas uma vontade maluca de ir andando.
Foi um ano da mais fodida pindaíba da minha vida. Quantos shows nesses 2005? Moby, Arcade Fire, Strokes, White Stripes, Flaming Lips, Weezer, Pearl Jam… tantos outros; que eu não pude ver porque não tinha uma moeda no bolso. Nem pra cerveja do fim da semana deu. Aliás, devo agradecimentos muito, muito grandes aos colegas da faculdade que muy generosamente me acolheram e sustentaram boa parte das vezes.
E foi o ano da Isa. Não é que tenha havia apenas ela. Não, quanta injustiça. Muitos outros amigos e amigas participaram de maneira decisiva. A Leda, perguntando; a Ana, cedendo a casa, a amizade e morando lá em Belo Horizonte; o Hugo, companheiro do todas as horas possíveis – as boas, as más, as nem lá nem cá –; tanta gente. É até injustiça citar nomes… A todos, meu desejo mais profundo e sincero de um 2006 repleto de boa sorte, bons momentos, amigos, amores, poucas dores; feito do que é feita a vida, enfim.
Mas, a Isa. Descobri nela o meu grande amor. Assim: fácil. Ela é, definitivamente, a mulher da minha vida, dona e senhora do meu coração de pano – feito de retalhos daquilo que um dia esteve desmanchado e que ela, sem muito esforço, remendou. Quer o Destino – senhor de todos nós, ainda que não se creia nele (e eu não creio, veja bem) – que eu ainda tenha que ter paciência e tenha que aprender a esperar. A ter calma. Mas o amor que sinto e a alegria que experimento por sabê-la minha amiga, das mais queridas, já basta para me transformar em alguém repleto. E diferente daquilo que sempre fui.
A vida tornou-se mais colorida em 2005. E, julgo eu, continuará assim no próximo ano – que promete.
Das promessas de 2006 não vou falar. Uma superstição boba – com medo de que, se ganharem corpo, peso, forma de palavra escrita ou falada, não se realizarão. Sim, ainda tenho das minhas manias. Como quando algo cortante cai no chão e eu não consigo tirá-lo de lá sem antes fazer com o objeto uma cruz rasgando o piso. Senão dá briga. Minha avó quem dizia.
Ela está indo pra Buenos Aires (uma cidade lindíssima, que ainda vou conhecer), e só volta semana que vem. Até lá, com disse a ela, ficarei bem, assobiando pelos cantos, fingindo me interessar por outras coisas e pessoas, mas não vendo a hora daquele avião voltar e pousar e ela descer e… bom, chega.
Feliz ano novo a todos. Aos amigos, que tenhamos ainda muitas alegrias juntos – sempre juntos. Aos que não conheço e que porventura passem por aqui, boa sorte.