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quando a gente sonha, a vida ganha tons utópicos que a transformam num caleidoscópio de combinações infinitas.

e, sabe?, você me devolveu isso quando achou de fazer morada aqui no meu coração.

não sei se eu deveria, mas tenho sonhado com essa quarta-feira das melhores maneiras possíveis.

o mais lindo é que provavelmente boa parte desses sonhos vai se tornar realidade.

é bom estar quentinho. ainda quentinho. e há tanto tempo… taaaanto tempo…

my own fake plastic tree…

(…)
She looks like the real thing
She tastes like the real thing
My fake plastic love

But I can’t help the feeling
I could blow through the ceiling
If I just turn and run

And it wears me out, it wears me out
It wears me out, it wears me out

And if I could be who you wanted
If I could be who you wanted
All the time, all the time

E quem pode me condenar? Quem?

uma declaração torta.

Você pensa que os pés cansados me incomodam a ponto de eu não conseguir mais te acompanhar? Nem um pouco. Aliás, nada. Não são os pés que importam, vê se me entende. O que importa é estar por perto, é entrar logo atrás de você, é ver o que você vê – mas sem me tornar uma sombra, sem ser sua sombra. Eu só quero ficar feliz com a sua felicidade.

Vão dizer que isso é paranóia, com certeza. E quando disserem, o máximo que vou fazer é sentar, suspirar muito profundamente, olhar para os lados com um ar extremamente cansado, tirar os sapatos e começar a massagear meus pés doídos. Porque, pra eles, o que importa são os fatos, o que interessa é só o que eles conseguem ver e medir e… São insensíveis às coisas que não se medem.

Uma hora eles se cansam – e eu continuo. Não me importo se pareço um maluco, não me interessa saber o que pensam, me importa você. Me importa sentir seu ar, viver ao seu lado, te ter – apesar de não te ter. Pensar que te tenho, é muitas vezes melhor do que a mais negra das solidões (que eu já experimentei, e não quero de volta). Então, tudo é alegria, tudo é festa. E eu vivo feliz assim. Não tem problema… Não tem nenhum problema.

desabafo.

O mundo é grande demais. As pessoas são grandes demais. As idéias são grandes demais. Minha mente é grande demais. Minhas dúvidas são grandes demais. Minhas certezas inúteis são grandes demais. Meu desespero por saber é grande demais. Meu hábito de julgar é grande demais. Minha facilidade em rotular e não respeitar é grande demais. Meu medo é grande demais. Meu amor é grande demais. Minha solidão radical é grande demais. Meu mundo é grande demais. As ruas são grandes demais. O céu é grande demais. Minha dor – ignorada – é grande demais. Minhas expectativas são sempre grandes demais. As portas de entrada da minha vida são grandes demais.

As facilidades não existem. O que me move é a vontade de me mover. As mãos já não tocam o que existe. (Existir é um engano.) Eu flutuo nesse momento. A cadeira está lá embaixo; sinto meus braços sendo puxados pra cima, e cada vez olho mais do alto para o teclado. O lado esquerdo do meu peito dói. A música me envolve e eu não tenho vontade nenhuma de voltar a sentir as coisas. Quero tudo assim: inexistente. Quero não me enganar. Quero olhar para todos e entender de pronto o que são, por que são, o que me escondem quando os vejo – e por que fazem isso.

É o grito de alguém que se engana, que se consome. Que não sabe ser melhor que outros – que teme pensar nisso. Alguém que será sempre pouco. E não é o caso de se incomodar com isso. Apenas, por um momento, desejou saber, com certeza, do amor de alguém por si. O que nunca houve.

Hoje estou parecendo os “entendidos” que param em …

Hoje estou parecendo os “entendidos” que param em frente a um quadro de Picasso, olham, olham e encontram ali o bandolim que ele promete. Estou encontrando muitos bandolins hoje. E boa parte da “culpa” provém de uma noite inteira embalada ao som de duas bandas islandesas – Sigur Rós e Múm. O mais fantástico das músicas é justamente o fato de eu não entender nada delas (no caso daquelas que têm letra). Sem a prisão das palavras e seus significados, a beleza dos sons – tanto das vozes, quanto dos instrumentos – inunda todo o ambiente e me leva a uma experiência sensorial espetacular. Vê como eu estou encontrando bandolins? Completamente metafísico hoje.

São dois discos em especial: “Ágætis Byrjun“, do Sigur Rós; e “ Yesterday Was Dramatic – Today Is OK“, do Múm. O primeiro é todo cantado em islandês – incluindo algumas faixas em que o vocalista (Jon Thor Birgisson) criou uma língua própria, para formar um duo especial com os instrumentos. O segundo, é quase totalmente instrumental – muito suave. Aliás, os dois são – “músicas de relaxamento”, que de fato relaxam.

Como é bom não entender… Poder apenas sentir a música e se emocionar – que é, no fundo, a única função de toda boa música. Recomendo fortemente.

invisível.

Eu não sou do tipo que chama atenção por suas qualidades. Provavelmente eu passarei incólume em muitas vidas que cruzarem o meu caminho.

Mas eu só preciso de um segundo. Nesse segundo eu te entendo – me basta. Um segundo e eu te desnudo como se você fosse ar, espectro do que é.

E se no segundo após eu te decifrar, se você fugir – além de te compreender mais do que você a si, eu te domino, te assusto, te amedronto.

Sou imperceptível; mas me dê um segundo, e tudo o que você é, faz, já fez, pensa fazer, esconde, teme, quer, tudo, absolutamente tudo, será meu. Irremediavelmente.

olhos fechando; sono.

Em algumas épocas a lua acaba que fica ofuscada por certos brilhos mais abaixo. Os faróis brilham muito, as lâmpadas da iluminação brilham muito, os letreiros nas avenidas brilham muito, até os celulares espalhafatosos brilham muito: e tanto brilho junto reunido, desvia a atenção que a lua merece.

Nesses dias, o mundo pesa mais. Sabe como é? Não sei explicar bem ao certo. Mas coisas pequenas, desimportantes, ficam grandonas, insustentáveis… Há algum tempo está assim. Eu olho pra cima, fixo a atenção na lua, mas nada adianta. São dias compridos – quase intermináveis de tão compridos.

A luz da lua é só uma metáfora pobre pra explicar dias assim. Outra: nessas épocas, eu adoraria ter milhões de comentários no blógue. Depois passa. Mas não nesses dias.

Há uma coisa em comum nessas duas metáforas; se você reparar bem, está ali.

Ah. Eu gostaria bastante de ter a minha câmera de fotografia de volta – só minha – pra eu poder registrar isso tudo, e provar minhas maluquices. As coisas brilham mais e os olhos ardem e os livros têm letras menores e os sorrisos somem e a sensação que prepondera é a de que está tudo voltando a ser como antes.

É pra isso que serve “uma boa noite de sono”.

PS: Ao mesmo tempo em que coisas muito legais se aproximam, porque, afinal, faltam só 12 dias. E o que são 12 dias, se ela vai estar lá e seu a amo? Me diz quem souber, que eu dou uma jujuba.

tentando ouvir estrelas

Não faz muito tempo, eu ainda acreditava em algo que de alguma forma sustentava as estrelas no Firmamento. Eram várias coisas, dependia do momento: às vezes pensava em meu avô, depois em minha avó, também; às vezes conversava com a lua, e acreditava em alguma cumplicidade entre eu e o astro; noutras vezes, cría na presença de uma força espiritual qualquer; quer dizer, eu mantinha uma devoção qualquer com o céu. Acreditava nele.

Há algum tempo isso passou. O céu, agora, é só um amontoado de explicações científicas, um espaço porta-detritos, uma infinita dúvida – e não consigo pensar nisso como algo bom. Me faz falta ter pra onde correr. Acho que é esse o grande problema das pessoas que, como eu, acabaram se tornando céticas. Não é bom. Diferentemente de muitos por aí, eu não me sinto orgulhoso por “ter me livrado dessas crenças”. Adoraria ter a paz de olhar novamente pro céu e ver ali uma oportunidade de ajuda, de sustentação, até mesmo de fuga…

As pessoas que conseguem acreditar em algo além, costumam sempre me reprovar, sem entender, ou melhor, sem tentar entender que não acreditar, pra mim, não é nada bom. É como uma solidão fria.

Quis conversar com as estrelas hoje, tentei encontrar aquela que eu fixara com sendo a “estrela de meu avô”, mas não logrei sucesso. Não deu. E, bom, eu precisava conversar com alguém.

Leatherhead

Era um senhor gago que vivia com sua esposa numa fazendola, num pequeno vilarejo há alguns quilômetros de Londres. Todos os dias, assim que se levantava e alimentava seus pássaros, Robert D. Rimpley – esse era seu nome – corria para a frente do rádio, afim de ouvir as notícias do mundo pela BBC, que ali, tão próximo à cidade, recebia-se de modo tão alto e claro que chegava a dar a impressão de que os locutores estavam na sala ao lado.

Quando o jornal terminava e ele tomava um susto (sempre o mesmo susto) ao fitar o relógio-cuco suíço na parede oposta, chamava sua mulher com três batidas fortes do assoalho de madeira. Esse código fora combinado muitos anos antes, porque a mulher sempre chegava antes dele terminar seu nome… Não havia nada que o irritasse mais do que isso: as pessoas adivinhavam o que ele pretendia dizer – odiava ser tão previsível. Então, como ele levava menos tempo chutando o chão do que recitando o nome da esposa, acharam por bem evitar aborrecimentos e trataram de firmar o acordo.

A mulher vinha calmamente da cozinha, ressindindo a bacon e ovos, passava por Robert e se encaminhava até a varanda do casebre. Lá, estendia uma bonita toalha sobre a mesa de madeira maciça (feita por ele mesmo, um excelente carpinteiro, diga-se de passagem), dispunha xícaras, pratos, talheres e apetrechos que tais, para que o homem viesse tomar seu café em paz.

Sentavam-se à mesa, um ao lado do outro (como não era o costume) e passavam agradáveis minutos apreciando seus respectivos desjejuns. Esse ritual só era quebrado nos dias de chuva, o que, convenhamos, eram muito freqüentes. Se a luz do sol não brilhasse nos olhos de Robert assim que ele despertasse, todo o programa tinha que ser revisto. Ao invés da mesa na varanda, o café era servido dentro de casa, ao lado do rádio – ocasião na qual comiam ao mesmo tempo que ouviam as notícias vindas da capital.

O resto do dia era sempre uma surpresa. Porque trabalhar numa fazenda (ainda que pequena) faz com que os dias nunca sejam iguais. Por vezes a vaca resolve estar num mal dia e escolhe não dar nem uma gota de leite, os porcos e as galinhas são também temperamentais – se bem que os primeiros, além de cheirarem mal, se conformam com qualquer coisa. A pensão que o velho recebia como indenização por seus serviços prestados durante a Grande Guerra lhes conferia um discreto relaxamento quanto às questões financeiras: não eram ricos, mas sobreviviam sem maiores dificuldades.

Tinham dois filhos, um casal. A moça casara-se há pouco tempo e se mudara com o marido para Berlim, onde ele exercia funções administrativas no governo de lá um tanto quanto obscuras, segundo Robert – que, aliás, nunca confiara naquele loiro aguado. O mais novo, Jack, estava em Oxford, na universidade. Era um menino de ouro, e, segundo a mãe lera na última carta que havia enviado, estava de olho numa mocinha que estudava por lá e parecia ser de boa família – de Gales, a moça, se não me falha a memória.

Não tinham a menor intenção de sair daquele lugar. Quando se viam obrigados a ir até Londres – por motivo de consulta a algum médico de Emma (esse era o nome da esposa) – faziam sempre da maneira mais objetiva possível. Estudavam acuradamente o metrô, para saber em qual estação deveriam descer e tudo. Nunca saíram da Inglaterra depois do fim da Guerra. Robert combateu na Dinamarca e na França, mas desde aqueles tempos duros nunca mais quis sair da Ilha. A última viagem a passeio que fizeram juntos foi por volta de 1952, quando foram assistir à coroação de Sua Majestade a Rainha Elizabeth II. (Emma insiste em não chamá-la assim; uma querela qualquer que tem a ver com o fato de na Escócia nunca ter havido uma Elizabeth I: baboseira.)

Se todos morrem numa ecatombe nuclear no fim dessa história? Não. É uma história com final feliz… Posso muito bem acreditar que se você for até esse pequeno vilarejo no arredores de Londres, encontrará um casal de senhores sentados à varanda, cada qual com sua xícara de chá a qualquer hora do dia.