constatação

A mulher pode ser incrível, de parar o trânsito, como se ouvia dizer há alguns anos, pode ter todos os predicados que transformam uma moça comum numa outra, desejada e centro das atenções masculinas… Ela pode ter e ser tudo isso, pode até causar inveja nas moças que lhe cercam, arrancando suspiros infinitos dos homens que nunca a terão. Mesmo assim, para além, se ela não souber falar de coisas triviais, se não souber rir de si mesma, se não conseguir manter uma conversa minimamente interessante por algum tempo, de nada adiantam todas as outras qualidades. Nada. Porque quando o outro diz que “beleza não põe a mesa”, eu ouço daqui: ela é linda, mas tudo o que tem de bela tem de medíocre.

Eu procuro por moças que saibam me fazer rir. Que contem piadas, que riam, que se “desmontem” na minha frente, que contem “segredos femininos”, que falem de sexo sem vergonha, que já tenham se libertado…

A merda é que eu encontro. E só. Mas tudo bem, me anima o fato de elas existirem, de não ser uma busca vã. Um dia, quem sabe…

das pequenas alegrias

Dancei – twist, rock, boogie-woogie, nada-certo, tudo-junto. Risadas ao pé-do-ouvido e tequila com tabasco. Cantei na frente de algumas pessoas. (Elogiaram minha voz e eu não soube onde colocar as mãos.)

Mas de tudo, o melhor foi ter brincado com os cabelos compridos e perfumados. Ela tem mãos pequenas e delicadas – feitas pra gente segurar com carinho. Foi bom sorrir sem perceber antes de dormir, também.

(Tenho medo das férias. Três meses iguais aos do ano passado e tudo o que vai sobrar de mim poderá ser recolhido numa mão feita em concha. Fica ainda mais assustador porque eu já sei como é difícil.)

Romantismo… pff…

A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.
(Carlos Drummond de Andrade)

 

Ah, eu não consigo começar esse texto. Já escrevi e apaguei umas três vezes. O que eu quero dizer se resume numa frase: ame sem querer. E ela não quer dizer um amar por acaso, do tipo você, amante, tropeçando na sua amada. Quer dizer você, amante, gostando por gostar, sem esperar nada em troca, sem querer ter a pessoa amada em troca do seu amor.Penso que esse é o segredo pra não sofrer amando. Sei que deve haver uma ligação direta entre essa história e a do amor romântico embutida aqui, mas eu não sei explicitar agora. Digo apenas o que lembro no momento (e que explica um pouco a tal ligação direta): amar romanticamente implica, necessariamente, no sofrimento. O romântico ama algo que ele idealizou. Sua musa é uma criação dele mesmo e é por uma ilusão que ele se acaba. Talvez (e, veja bem, talvez) essa história de amor romântico seja uma grande cagada. E eu que sempre estufei o peito pra dizer que “sou romântico”… Aposto que alguém mais entendido olhava pro meu peito romântico estufado e pensava em estourá-lo com a agulha dourada da realidade – fria e afiada (quanto drama, oh, quanta alegria).

Se você entende que gostar não significa invariavelmente sofrer, a coisa toda fica mais leve. Além de você mesmo se sentir mais leve – porque se liberta de um fardo pesadíssimo, que é essa coisa da musa –, a pessoa a quem todo esse sentimento sufocante se destina deixa de ser esmagada por esse amor perverso.

Apaixonar-se é um fato. E mais: é um fato absolutamente irracional. Como eu posso não querer me apaixonar? Como eu consigo explicações racionais e lógicas para uma não-paixão? Como seria chato um mundo onde até isso as pessoas soubessem controlar… Daí que nada pode ser feito. A moça entra no carro pela primeira vez, você nunca a viu, está saindo de uma última paixão avassaladora (a maior da sua vida), pensa que não quer nada, com ninguém, nunca mais… Mas aí seus olhos cruzam com os dela e nesse segundo, você crê em toda aquela história de “amor à primeira vista”. Os dados são lançados. E a irracionalidade termina exatamente aqui. A partir desse ponto, tudo – lê direito – tudo o que você interpretar como um sinal “de sim” ou um sinal “de não”, como uma abertura, como uma possibilidade, como um sorriso especial pra você, como um gesto de repulsa, tudo!, não vai passar de criação da sua cabeça. Ela sorri sempre, pra todos, com todos os dentes: por que o que ela “te deu” (e será que ela te deu mesmo?) seria diferente?

Não é uma derrota perceber isso – ao menos eu não vejo assim. Pode até, quem sabe?, ser uma evolução. Tive que passar por um rol imenso de grandes merdas pra voltar a compreender isso. Sim, eu já tinha compreendido, tempos atrás. Fui obrigado a isso, porque não era eu o namorado no assento do avião ao lado dela, indo pra Barcelona e Paris (como a gente tinha combinado que seria). Agora, novamente, preciso tentar esse – qual o nome? – desprendimento[?]. Gosto dela, ela gosta dele – que não gosta dela, mas ela não pára. Então, tento parar eu. E, veja, é parar de querer ter, não parar de gostar dela. É tentar gostar sem querer ter – porque aí, penso eu, está boa parte do combustível do sofrimento.

Entende que eu preciso tentar? Não sei como vai ser nem tampouco se vai funcionar – mas eu, definitivamente, preciso não enlouquecer.

orkut.

Num mundo distante e pouco bonito, havia um tipo especial de flor que vivia durante todo o ano. O ano lá durava quinze segundos. No décimo quinto segundo do ano que havia passado, a flor que morria deixava cair no chão uma única semestre (laranja, pequena, achatada). Quando o ano mudava e o primeiro segundo começava, a semente afundava no solo, sem que fosse preciso qualquer tipo de ajuda – ela simplesmente escorregava lá pra baixo. Passavam-se dois segundos até que ela brotasse e começasse a crescer. Essa era sempre a parte mais perigosa. Enquanto crescia, tudo ia acontecendo em volta, num tempo que para ela era completamente normal e coerente, mas que se fosse como parece ser para nós, não passaria de uma sucessão incontrolável de chuvas, neves, ventos, sóis, crises, mortes; num sussurro eterno e infinito… (As quatro estações em quinze segundos.) A flor se tornava adulta a partir do quinto segundo. No décimo segundo, prevendo sua morte, perfumava o ar e atraía para perto de si abelhas que lhe sugavam o néctar extremamente doce e que lhe fecundavam.

Eu penso ser o menino que olha a flor pela lupa, quilômetros de distância acima de seu mundo. Viajando entre o alto e o chão, não entendendo o que me faz voar, mas sem parar nunca.

Me assustei e me entristeci quando vi a primeira das flores morrer. Ela parecia gritar muito, sempre se contorcendo como se contorcem as flores ao morrerem, mas eu juro que não ouvia. Morreu uma das abelhas, também. E ela também se contorcia – abrindo e fechando as pequenas asas translúcidas.

[Aqui.]

(Texto de merda.)

Vontade de escrever no ritmo da música que vai tocando, sem perder muito tempo com a conexão das idéias, dá vontade de lembrar e escrever. E por que não?

Bichas no ônibus, quatro delas, já embarcadas quando entrei. Entrei junto com um bêbado na rodoviária, a menina disse que ele foi empurrado pela mãe do banheiro onde lavara o rosto para dentro do ônibus. Aliás, a menina tem ido muitas vezes pra Campinas de ônibus ultimamente e coincidentemente nos mesmos ônibus que eu uso. Bah! Que bobagem… São sempre três ônibus: um ao meio-dia, outro às duas e tem o das dez horas – mas esse eu nunca uso, porque minha mãe não chega em casa tão cedo. Acho que amanhã ou depois minha pele começará a descamar e eu perderei minha cor diferente. Arde um pouco, mas é engraçado me enxergar de outro jeito, só pra variar. O lençol novo da cama nova é macio, compensa o desconforto. Na quinta-feira estarei dando aula novamente, a viagem de ônibus (de novo) cansa só de imaginar, mas ensinar é gostoso. Vou falar sobre a África. Quer assunto mais interessante? Ok. Meu amigo se apaixonou por uma nova amiga, e vice-versa. Eu sou um bom cupido, só não sei me cupidar. A música que está tocando se chama 7-1000. Letras em itálico me lembram outra amiga. Ela não gosta de letras clichês. Eu acho engraçado o fato de existirem até mesmo tipos de letras clichês.

Preciso monografar. Não sei sobre o quê. O professor sugeriu que eu parasse de tentar encontrar o meu objeto olhando para fora, pela janela do ônibus e me concentrasse em procurar a resposta (ou a dúvida) num livro de método – “Nosso companheiro mais fiel”, foi como ele disse. E ficava me olhando de rabo-de-olho – o professor, não o livro -, como quem diz: “Ah, essa juventude…”. Ele nem é assim tão velho. Mas é um homem a quem eu me refiro por mestre sem qualquer constrangimento. É um verdadeiro mestre – que mais pergunta do que responde. Então, por conta disso, acho que no livro de método eu vou encontrar dúvidas. Mas é só um achismo. Hoje eu ouvi de um rapaz da faculdade uma indagação fantástica. Se o espaço geográfico é o conjunto contraditório de sistema de objetos e de sistemas de ações, por que cargas d’água as pessoas escondem o “contraditório” nas suas definições particulares? Não entendeu? Não importa… Saiba apenas que dá muito o que pensar, quando você se lembra de que passou cinco anos sem atentar pra contradição inerente ao híbrido sobre o qual se debruça. Ele disse, até, que essa definição pode estar completamente furada desde a sua base filosófica, porque une racionalidade e irracionalidade. Que te importa, não é? Nada. Bem sei.

Só estou lembrando…

Sono. E isso não é lembrança.

(Im)Paciência

O rosto limpo, sem maquiagem; os cabelos presos atrás da cabeça, mas não num rabo de cavalo, estavam daquele jeito que só uma parte do cabelo fica presa e uma outra parte fica solta, por baixo; blusa preta, colada ao corpo, marcando os seios; saia longa, branca, com renda na cintura e nos calcanhares; sandálias baixas, de couro, de forró… Um sorriso gigante. Aí o sol bateu bem no rosto dela e os cabelos faiscaram sob a luz. E eu me (re)apaixonei ainda um pouco mais – quando sei que não devia.

~..~

Futuros Amantes
[Chico Buarque]

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
[…]

Anos

Eu me relaciono de um jeito estranho com as coisas do mundo. Preciso delas verbalizadas para que ganhem a força que têm, de fato. Quando ela morreu, há três anos, eu entrei num estado catatônico até que um amigo me pegasse pelos braços e dissesse, olhando nos meus olhos: ela morreu. Mesmo tendo lido, mesmo tendo sentido na hora, eu só fui realmente chorar depois disso. Sentei e chorei como acho que nunca mais vou chorar na vida. Até então, ela ainda estava na Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro, se recuperando da drenagem de um aneurisma que começava a comprimir uma certa área do seu cérebro, ocasionando desmaios e dores de cabeça fortíssimas. Quando ele disse, eu realizei o fato de que ela não tinha resistido às complicações pós-cirúrgicas, que ela sabia disso quando me ligou dois dias antes, do quarto do hospital – sem lembrar de mim, mas lembrando do quanto me amava (e ela disse exatamente isso) – pedindo pra que eu não ficasse triste demais, que não desistisse. Foi no dia 27 de Julho de 2003, mas eu só chorei alguns dias depois. Sentado num banco. Sozinho.

Hoje me encontro de novo com esse poder da palavra. Verbalizado, tudo vai desmoronando aos poucos e eu sinto esse desmanche. Vejo sonhos despencando do céu. Meu coração se enrijece ainda um pouco mais. Mas é esse o modo que tenho de conseguir seguir em frente. E tenho que ir. “Sim, eu gosto dele.” E eu sorrio de olhos fechado desse outro lado, olhando pela janela e desejando que o sol nasça logo.

Firefox 2.0

Pelo que eu pude apurar através do meu contador de visitas (aqui), boa parte das pessoas que acabam chegando até este humilde blog insistem em usar o Internet Explorer como seu navegador. Não vou repetir aqui tudo o que já se disse sobre as infinitas desvantagens de continuar usando o problemático IE (eu recomendaria, especialmente, o post do Marcus Pessoa sobre o assunto).

Ao invés de repetir os argumentos já amplamente utilizados, vou demonstrar por a + b que o Internet Explorer não merece ser tão requisitado assim. Seguem, dois print screens do meu blog, o primeiro numa janela do IE e o segundo na janela do Firefox.

Na janela do IE, aparece uma linha azul estranha logo abaixo do banner, a coluna da direita vai parar lá embaixo, no fim da área dos posts, o painel do Last.fm não aparece (nem lá embaixo), o template fica quebrado, como se tivesse sido dividido – e essa nunca foi a intenção.

No Firefox, por outro lado, tudo vai pro lugar – exatamente onde eu pensei em colocar quando mexi no layout do blog. Fica tudo bonitinho, tudo certinho, tudo arrumadinho.

Então, caros visitantes, parem com essa bobagem de usar o Internet Explorer. Me incomoda bastante imaginar que vocês ficam vendo o site todo torto, quando eu tive um trabalho do cão pra deixar tudo (mais ou menos) ajeitadinho. Façam o seguinte: redescubram a internet. Baixem o Firefox, em nova versão, traduzida pro português, com milhares de funcionalidades bacanas… Ouçam o tio – shhh! -, ouçam o tio.

Aqui, ó:

Firefox
Mudem pra raposa e façam um blogueiro feliz.

Obrigado.