la comédie des jours

“(…) o meu bloco tem sem ter”… é isso, entendi. há anos cantando errado e só consegui entender agora. “tem sem ter”. (samba a dois, do los hermanos, se quer saber.)

quantas são as surpresas que a gente ignora? quanta consciência é preciso ter das pessoas, pra saber ver o que elas trazem e não mostram? (se é o caso de ter consciência…)

~.~.~

há muitos anos escrevi o último conto do qual realmente gostei. sim, eu escrevia contos… meu prazer era uma folha em branco — que fosse folha ou tela ou não; desimporta. não sei o que houve. onde parei por alguns momentos e esqueci minha vontade para contos.

quando digo a certas pessoas que, infelizmente, endureci, elas riem, me acusam de fazer drama e “deixa disso, seu bobo”. talvez eu continue sensível a algumas situações, a certos comportamentos, pequenas passagens diárias. prefiro acreditar nisso, inclusive. no entanto, perdi a leveza que me acompanhava havia algum tempo. porque era sentar e escrever — “sem pensar”, eu pensava. hoje eu “penso”. e quanta estupidez há em “pensar”.

eram outros dias, claro. (outra pessoa.) não havia a geografia e anos a mais — já que é função dos dias desfazer ingenuidades. não havia tanto ceticismo.

eram outros dias nos blogs, também. é certo que sempre tive cadernos. do mesmo modo que é certo que nunca gostei de rascunhar e depois transcrever — porque era assim, simples; era sentar e escrever. um dia alguém, em algum lugar, se transformou em um “blogueiro profissional” e matou um pouco da magia. porque, pode não parecer, mas estou nessa já há alguns anos (seis ou sete, enfim); e, portanto, vi a maioria das coisas acontecendo — de longe, na maior parte das vezes. escrever o cotidiano, sem uma sacada genial, sem publicidade, sem links amigos, sem pretensões ou dinheiro, aqui de longe, ficou parecendo estar fantasiado de palhaço num velório (ou vestindo terno preto e lágrimas num circo). ficou parecendo incômodo não ser “sucesso”.

(claro, há exceções. sempre há. um suspiro aliviado em homenagem a elas, então.)

a blogosfera, sempre foi um bom lugar pra fugir da necessidade do sucesso. não do reconhecimento alheio — seja por e-mail ou por um comentário, conversar sobre o escrito, é uma atenção sempre bem-vinda –, mas daquilo que enche páginas e mais páginas de revistas e colunas sociais e sites de fofocas… um ranço, um festejo falso, sorrisos amarelhos e tapinhas nas costas. ou vai ver era a minha afamada ingenuidade — vai ver sempre houve tudo isso, e eu só não enxergava. como saber?

de qualquer forma, é bom ser surpreendido (por algo de fora, absolutamente novo e não-vanguardista) estando atolado nesse mar de feeds repletos de “sucessos” e potencias gênios da raça.

3 comentários sobre “la comédie des jours

  1. Pois então te achei… E sinto-me orgulhosa porque links não ajudaram, nem voltas por aí, o que valeu mesmo foi o meu velho caderninho de telefones (manuscrito já que agendas eletrônicas às vezes por um click errado “vão-se” desta para melhor) e a vontade de ouvir a voz do garoto que lá pelos seus 18,19 anos ligou pra mim numa passagem de ano, como se me conhecesse, conhecendo-nos os dois só por dentro, pelas almas e escritos… Pois tá aí querido, nos re-encontramos. Você encontrou o meu blog primeiro, nada famoso, nada patrocinado, mas sempre muito sincero, e eu encontrei-te agora de novo, pra essas almas não se perderem :) Tua voz soa mais forte, madura e alegre. Gostei. Gostei também de achar tua nova capitania… ainda bolo um selinho pra ela… enquanto isso, importante é renovar o link, que levava meus amigos só pro Thiago do passado. Beijinhos.

  2. Pingback: Pequenas anotações de viagens virtuais 25 - Uma Malla Pelo Mundo

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