*tosse*
Maldita gripe. Há um bom tempo ela não me pegava de jeito; ainda bem que não tenho aulas a dar nessa semana, sem voz ia ser impossível. Mas, já que estou aqui, não me custa dizer como as coisas têm andado, afinal de contas. Os últimos dias têm contribuído de maneira muito eficaz para o progressivo desencantamento do mundo diante dos meus jovens olhos. “Todo mundo passa por isso” – dizem. Eu não sei. Estou passando; aos trancos. E ao mesmo tempo em que passo por tudo, algumas coisas vão acontecendo pra que eu perceba que, apesar de tudo, devo lutar pra tentar manter em minha vida certos tons da poesia que sempre me moveu diante dos problemas e tal. Já aconteceu muita coisa ruim comigo – como acontece com todos, obviamente – e eu sempre soube sobreviver a elas. Não há de ser mais simples esquecer tudo o que aprendi, do que novamente aprender com o sucedido. Me parece pouco lógico acreditar nisso. Desaprender, desentender, desconstruir… a genialidade está aí, não no contrário. Saber criticar o que está posto e, revendo o “estado-da-arte” das situações, propor saídas. Geralmente fazê-lo balizado pela tal poesia a que aludi ali em cima. Se é fuga, se equivale a descer um pano semi-opaco diante dos obstáculos, pouco me importa, na verdade. Penso que “poetizando” minhas escolhas, vivo mais plenamente. Será que vale mais agir constantemente baseando-nos na racionalidade que nos impõe o Mundo (agora com letra maiúscula)? Também não saberia responder. Mas posso achar – e acho que não. Este deve ser o 20º texto que escrevo nesse tom, meio que condicionando meus pensamentos frenéticos, os acontecimentos recentes (bons ou maus) a um processo inescapável de aprendizado constante. Sempre me ajudaram… Pensamentos frenéticos. E inesgotáveis, aparentemente. Basta acreditar num segundo de paz que tudo recomeça; outros atores, novos fatos, semelhanças incômodas, tudo de novo. Agora mesmo, nesse 2006, meu quinto ano de faculdade (que parecia absolutamente longínquo), tudo o que tenho são dúvidas. (Adoro a palavra espanhola para dúvidas:
deudas; pelo som, talvez.) Se você me perguntasse de que se trata esse texto qualquer, em um site qualquer, de uma pessoa qualquer, te diria que é, cheio de dúvidas, um compromisso com o lúdico – de mim, para mim. Acabo de ouvir o húngaro pela primeira vez. Céus, o que isso tem a ver com todo o resto…? Tive a impressão de que o trecho lido em húngaro terminaria na metade do tempo que levou a leitura em português do mesmo trecho. Uma língua rápida, muitos erres, sons sibilantes. Mas eu dizia sobre os dias. Há uma semana atrás revi, quiçá pela 20º vez, meu eterno retorno particular. Uma situação que, pelo visto, há de me acompanhar pelo resto dos meus dias e que se resume na minha impossibilidade para o amor. Grave, não? Talvez “italianamente” grave – ou seja, descarte o exagero. Eu amo. Só não sou amado. Naquele sentido, por favor. Sei de amigos a quem amo e por quem sou amado. Já foi mais difícil passar por tudo, mas a constante repetição e os calos que a larga experiência traz amenizaram as agruras. Tanto assim que estou aqui, agora, escrevendo um texto semelhante a muitos outros que escrevi, me fazendo acreditar que, ainda mais uma vez, devo continuar tentando. Nem tudo são más notícias, oh, não. Os percalços me fizeram rever as minhas prioridades, me deram a chance de redimensionar minha vida e, por conta disso, pude respirar um pouco mais aliviado (a despeito da constipação). Tenho a impressão de que passei a um estado de maior calma – ainda maior do que aquele em que me encontrava até a semana passada quando abri mão mais uma vez de uma menina que me enchia os olhos. Antes dela, eu estava em relativa paz. Depois dela, houve um momento de paz “quentinha” (perdoe-me pelo termo). Agora que já não há mais nada (a não ser as lembranças, minhas companheiras eternas) e passados os dias de crise, me encontro com um alguém diferente. Óbvio, não? A gente vai crescendo. Me descubro ainda apaixonado por línguas, desejando ouvi-las; quero uma faculdade de Filosofia – não para o currículo, mas para dar certa consistência ao que penso saber sobre esse mundo em que vivo –; depois de
Pedro de Toledo, me debato pensando em trazer para fora dos muros da universidade todas as teorias geográficas que não consegui pôr em prática lá e fazê-las funcionar, para que mostrem a todos que podem, sim, desavergonhadamente, ser uma alternativa viável para a solução de problemas cotidianos… Enfim, numa palavra: sigo. Não por obrigação, nem achando que esse mundo seja uma grande merda – ainda que eu pudesse dizer. Disposto, apenas.
*tosse*