Das pequenas sinceridades.

Eu esperei a noite toda pra poder sentar aqui e escrever. Faz quase três anos que tenho me dedicado aos blogs que criei (dois, contando esse) e fico realmente contente ao perceber que não foi apenas fogo de palha. Eu ainda fico ansioso enquanto não escrevo a idéia nova para um texto que me surge nem tampouco perdi a verdadeira necessidade da escrita – que foi o motivo em maior grau responsável pela primeira empreitada. E lá se vão quase três anos…

Mas não era disso que eu queria falar.

Esperei a noite toda pra dizer sobre o insipiente equilíbrio que regula a vida. Mas não quero mais fazer o tratado que vim organizando durante todo esse tempo. Não. Pretendo apenas uma observação daquilo que já virou senso comum. Boa parte das pessoas sabe e entende que quando um lado da vida vai muito bem, obrigado, o outro ou os outros nem sempre acompanham essa calmaria.

Lembrei desse fato ao atentar para o dia que deverá ser o de hoje (ou amanhã, que eu ainda não dormi). Ultimamente, pouco posso reclamar. Por um lado. Por outro, bom… entre 0 e 10, fica no 5. E está razoável.

Seria demais querer que todos os aspectos da minha vida caminhassem harmoniosamente. Minha mãe costuma dizer que se fosse assim, não teria nenhuma graça. Sei lá se concordo. O que sei fazer é suspirar e continuar andando – como sempre fiz. Mas não é um suspiro de desânimo. Funciona, mais ou menos, como um estufar de peito antes da batalha. Imagine-se numa guerra: você, corpo-a-corpo com seu inimigo, um guerra de trincheiras, à la Primeira Grande Guerra. Antes de correr com a baioneta na mão, você enche o peito de ar. Dá a sensação de que se fica maior. E, se olhar meio de lado, no ápice da inspiração, os problemas parecem desse tamaninho. Bem petenos. Peteninos.

E daí, seguir andando não parece tão complicado.

Só resultados.

Campeonato russo
6ª rodada

  • Alania Vladikavkaz 2×1 Spartak Moscow
  • Dynamo Moscow 0x2 FK Moskow
  • Ktylya Sovietov Samara 3×0 Zenit St. Petersburg
  • Lokomotiv Moscow 1×1 Amkar Perm
  • Rubin Kazan 1×1 Rostov
  • Terek Groznyi 1×0 Saturn Rameskoye
  • Tom Tomsky 0x1 Shinnik Yaroslavil

Se continuar assim, no ritmo que vai, nem Nossa Senhora de Kazan ajuda o Rubin. Veja lá! Empatou com o Rostov, em casa! Assim não dá! Pelo menos aqueles burocratas (ptu!) de Moscou não têm o que comemorar. Empatar com o timinho de Perm, em casa, é uma vergonha ainda maior.

Stalin derramaria uma lágrima – escondida pela penumbra de seu quarto no kremlim de Moscou (sim, porque existem outros kremlins, outras cidadelas muradas). Dostoievski também. O Zenit de Petersburgo perdeu. De goleada ainda. Em Petersburgo não tem um kremlim, mas tem a avenida Siénnaia e a ponte K. E provavelmente, Raskolnikov não se interessaria por esse assunto.

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Preciso dormir. Eu sei, eu sei…

Ma che!

Samba Italiano

[Adoniran Barbosa]

Piove, piove
Fá tempo que piove quá, Gigi
E io, sempre io,
Sotto la tua finestra
E voi senza me sentire
Ridere, ridere, ridere,
Di questo infelice qui.
Ti ricordi, Gioconda
De quella sera in Guarujá
Quando il mare
Ti portava via,
E me chiamaste: “Aiuto, Marcello!”
La tua Gioconda à paura di quest’onda.

Capisce?

Mr. & Mrs. Bubbles.

Daí que tinha uma moça que não queria coisa alguma antes do nome de seu namorado. Nada, absolutamente nada poderia ser mais importante, mais relevante, mais prioritário, melhor, enfim, do que o seu namorado.

E era isso – era isso.

E ele nem ligava. Abria um livro na cara dela (de algum autor pouco conhecido, mas muito, muito bom e muito, muito, muito inteligente – inglês ou, quem sabe?, tcheco) e fazia bolhas translúcidas e tão leves quanto qualquer bolha – elas não tinham nada de especial, entende? Eram só bolhas.

Só bolhas – dele. E, pra ela, era só isso, além de não ter nada na frente do nome dele. Nem que surgissem gênios ou oportunidades imperdíveis, ela faria uma cara qualquer de desprezo, daria de ombros e sairia correndo atrás da última bolha que viria do canudo.

Tenho uma pena que escreve Aquilo que eu sempre si…

Tenho uma pena que escreve
Aquilo que eu sempre sinta.
Se é mentira, escreve leve.
Se é verdade, não tem tinta.

[Fernando Pessoa]

Essa quadrinha “ao gosto popular”, escrita por Fernando Pessoa, é uma das poucas palavras que achei e que podem me destrinchar, me desnudar – de maneira até aterrorizante.

É bem simples e não apresenta qualquer tipo de dificuldade de entendimento (ao que parece). E isso é bom. Acho mesmo. Tem pessoas que primam pela complexidade em tudo o que fazer, se escrevem, se agem, se falam – e eu não tenho nada com isso.

Fazem sentido completo para mim esses quatro versinhos. É uma cantiga popular, mas eu empresto a ela certo lirismo que muito me agrada e em nada ela fica devendo a qualquer poema laureado de reis e rainhas.

Mas, veja, vai-se acabando a tinta…

Há vinte e um anos atrás, direto da Maternidade São Paulo: eu.

Daí que hoje é meu aniversário.

Desde sempre meus aniversários pouco diferiram de dias comuns. Talvez as únicas coisas das quais me lembro com certo carinho sejam as festas e os presentes do tempo de criança e os jantares (aqui em casa mesmo) depois que virei menino-grande. Geralmente alguns parentes mais queridos ligam, desejam saúde e alegria – aquelas coisas. No mais, fica realmente muito parecido com qualquer outro dia. Pouca gente se lembra. Quem se lembra são pessoas que tenho em alta estima (e não apenas porquê se lembram – que se fosse assim, eu seria considerado um crápula por elas, porque não lembro nenhum tipo de data ou compromisso). Essas pessoas ligam, abraçam, me dão sorrisos… Por isso, é um dia diferente.

Esse ano um frio na barriga me acompanhou desde alguns dias atrás até essa noite. Não entendi porquê e ainda não sei bem, mas acho que deve ter alguma coisa a ver com o orkut. Mais pessoas do que o normal pelo menos viu minha foto embaixo de seus dados pessoais avisando sobre o aniversário do Thiago que se aproxima. Não chega a me incomodar – porque é bom ter amigos a me cumprimentar -, mas é diferente. No fim, pode ser que nada mude. Mas me faz sentir menos pior saber que mesmo de relance as pessoas viram o recado e talvez tenham pensado: “Po, taí um cara legal”. É o que eu me esforço pra ser. Nem sempre dá certo.

E eu vou parar com essa melação.

21 anos. Sim, sou um bebê. Agora me tráz o bolo.

\o/

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Esse texto tem update antes de ser publicado. Esse aniversário já não foi igual. Eu tinha alguma suspeita de que isso pudesse acontecer – que eu me surpreendesse com as possibilidades, aquelas, as infinitas.

E eu ganhei o maior presente de toda a minha vida essa noite, durante a madrugada. Quem precisa saber, vai saber. Quem me deu, me fez muito feliz – me deu um sentido pra andar – e sabe disso. E, putz, foi lindo.

Agora, updating, me tragam dois pedaços de bolo. Dois.

=)

Era um soldado eficiente; sabedor de suas obrigaçõ…

Era um soldado eficiente; sabedor de suas obrigações e deveres, conhecia cada rosto que costumeiramente passava por aqueles portões e poderia até mesmo dizer pra onde cada qual se dirigia. Mantinha sua posição firme, sem desguarnecer seu espaço nem por um segundo – não se importava de ficar ali, estático. Era um bom serviço. Guerra desde há muito não se via. No máximo, uma briga de senhoras por questão de uma ou duas galinhas e alguns ramos de verduras. Mas era mais – o seu trabalho ia além.

Todos os dias ele aguardava ansiosamente pelas onze horas. Quando o relógio da catedral batia o primeiro quarto depois dessa hora, sem que nada tivesse acontecido, ele (sempre) entrava em pânico. Por ali, todos os dias àquela hora, passava a comitiva que levava a rainha do castelo ao rio e, quinze minutos depois, do rio de volta ao castelo. Por poucos segundos – talvez nem segundos – era possível ver o rosto da ilustre figura.

E o povo não mentia. (“Ele quase nunca mente… assim, de um modo geral” – pensava o soldado.) Ela era linda. Era realmente hipnotizante de tão linda, e ganhou ainda mais resplendor depois da morte do rei. Diziam que as brigas entre eles eram constantes. (“Não sei se isso é verdade” – retrucava para si mesmo.) E por alguns segundos, ele a via.

Era o suficiente pra um dia de alegria na tristeza. Era um imenso motivo para sorrisos e saltos desengonçados.

Um segundo. Por um segundo (somando-se todos os momentos) via a rainha. E nesse segundo – de toda uma vida – foi feliz.

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Motivos de alegria:

(Porque eu olhei ali no “.Eu.” e resolvi me alegrar.)

“Pedro pedreiro penseiro esperando o trem […]”

O que eu venho fazendo não é bem trabalho. Pra que seja considerado trabalho pressupõe-se algumas coisas. A principal delas, segundo MARX (vejo fogo nos olhos de alguns), seria eu estar recebendo pela venda de minha “força de trabalho”. Mas, pff, nem. Não estou recebendo e, na verdade, essa não é a minha intenção com essa coisa toda. Quero mais é mais.

São três da manhã. E amanhã, aí sim, vou ter que levantar da cama e ir, sim, vender minha força de trabalho por um salário. Injusto e miserável. (A idéia de greve torna-se tentadora quando se enxerga as coisas de um certo ponto de vista.)

Eu deveria estar dormindo.

Não tenho porquê reclamar. (Mentira!)

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[…]
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
[…]

“Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda que o mundo”. Pedro pedreiro. Thiago pedreiro? Penseiro? Rá. Hm.

Sobre (muitas) possibilidades.

Há quem considere o mundo um amontoado de possibilidades que estão sempre nos rodeando, nos inspirando; se insinuando. Eu não tenho porque duvidar disso: muitas vezes é como parece que as coisas se dão.

Ontem, por essa hora, o mundo não passava de um amontoado de barulhos e luzes que faziam minha cabeça doer horrivelmente – tudo, qualquer coisa, servia para me irritar e me impedir de dormir. Hoje, agora, a cabeça já não dói mais e conclusões que pareciam inescapáveis ontem surgem menos medonhas. Sobre as infinitas possibilidades: estava assistindo ainda agora um documentário sobre um autor de teatro, o siciliano Luigi Pirandello. Ontem eu provavelmente não teria conseguido. Mas, enfim, sem digressões.

Eu pouco sabia sobre esse homem. Ainda não sei muito, mas já posso citá-lo sem medo de cometer gafes. Na peça que foi mostrada (“Henrique IV” – como o de Shakespeare, mas diferente) defende-se a tese de que cada um de nós tráz em si um mundo particular e diverso de todos os outros mundos que todos os outros e cada um carregam consigo. Baseando-se nisso, ele disse (durante a peça) que a causa maior dos problemas, das confusões, dos mal entendidos são as palavras. O que eu escrevo tem para mim um significado diferente daquele que você percebe quando lê. E é verdade. Grandes confusões podem surgir daí.

Mas, na verdade, eu me impressionei com essa idéia – dos muitos mundos possíveis – por outro motivo. Junto com a dor de cabeça de ontem, uma tristeza e uma angústia muito grande se abateram sobre mim resultado da repetição de um fato que não vejo como pode acabar sendo bom pra mim. Essa história tem dois lados: é, em grande parte, egoísmo meu; mas é também uma sina, um fado extremamente pesado e difícil de carregar. E vai acontecer de novo.

Posso estar exagerando (porque eu geralmente exagero), mas não há hipérbole alguma em dizer que essa foi uma noite muito, muito longa.

(Não sei se preciso dizer… Eu já não estou mais triste. Só tenho vontade de suspirar e repetir que “assim é a vida” – as coisas passam.)

Desde que me digam, não vejo problema.

Sem poesia, quase tão duro quanto um coração de pedra; gelado e inerte como a lápide de mármore que cobrirá os três esquifes (feitos em cipreste, zinco e carvalho) do ex-Papa, venho aqui dizer que, oh!, meu caralho, de quê adianta tudo, se no fim das contas, sou só eu? Perceba a não-poesia, o escárnio, a ironia implícita e latejante, a dor pungente e amarga que escorre disso: eu, e só eu.

Agora vá colher flores no jardim. (E me traga uma.)

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Me disseram hoje que Deus (\o/) é – foi, sei lá – o maior geógrafo de todos os tempos, forever and ever. Há quem fale – indo além de um mero e chinfrim espaço geográfico – em “espaço divino”. Vai longe, muito, muito mais longe…

Que beleza contar com um companheiro dessa magnitude, ahm? Não é pouca porcaria.

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Wave
Tom Jobim

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

O resto é mar
É tudo que eu não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

Da primeira vez é a cidade
Da segunda o cais, a eternidade
Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver

O dia inteiro cantarolando essa música. É… Pois é.

Me chama que eu vou… É só chamar.

Refazendo a vida constantemente, temos um momento que é só nosso – só meu. Minha cabeça está doendo. Descobri que assistir TV enquanto viajo de carro me dá náuseas. E que não é das sensações a mais agradável. Mas, como ia dizendo, nesses momentos que fico só (pra dizer em primeira pessoas e não comprometer mais ninguém), sinto um pouco de náusea… Não. Me confundi. Quando sinto náusea estou só. Não. Sinto uma solidão tão forte que me dá náusea. Ahm… não.

Enfim.

A cabeça dói. Vou deitar e ver se passa. Até.

(Oi. Oi. Eu quis dizer oi, mas não deixaram. Digo, então: oi.) =)