é, eu sonho bastante…

Como eu havia planejado, acabou dando tudo certo e eu fui assistir à palestra do professor Aziz Nacib Ab’Saber hoje, lá na Unicamp. Esse senhor (já bem avançado na idade, contando os seus oitenta e um anos) é um geógrafo brasileiro respeitado por acadêmicos no mundo todo, que deu-nos a honra de sua presença nesta tarde num dos auditórios da universidade, pra nos contar um pouco do que sabe, ou melhor, daquilo que aprendeu nesses anos todos de cátedra e de pesquisa sobre planejamento territorial.

Além de tudo o que eu possa ter aprendido nas quase duas horas que ele falou, uma coisa ficou bastante clara pra mim hoje: há um sentido muito forte e claro naquela frase tão surrada e tão repetida que diz, em latim, carpe diem.

Não é preciso tradução. Mas vou dizer que pensei nessa expressão de um jeito diferente – pelo menos pra mim.

Quando se é um cientista já idoso, cioso de seus momentos de reflexão solitários, mais amigo dos livros do que das gentes, imagino que deva ser imensamente prazeroso olhar pra trás, por cima dos ombros, e poder afirmar, sem titubeio, que, enfim, valeu a pena: que tudo aquilo que podia ser feito, foi feito, que as discussões necessárias existiram, que as escolhas, certas ou não, vieram cada qual a seu tempo, que as dúvidas quedaram-se sanadas (ou recriadas noutras vestes – o que é melhor, a meu ver)…

Quero dizer que, ter em mente o carpe diem, muito além de ser somente uma maneira de procurar romper com certos pró-formas da sociedade (que prega rapidez, agilidade, segurança nas decisões, nada de momentos de pura e simples contemplação), para além disso, a idéia por trás do carpe diem, para mim, a partir de hoje, remete a uma certa responsabilidade com o porvir.

Porque no momento em que cada um olhar por cima dos próprios ombros – lá na frente, depois de quase tudo – e perceber ou não essa luminosidade difusa que caracteriza o “valer a pena”, nesse momento o arrependimento pode ser tão forte, tão esmagador que talvez seja menos perigoso realmente aproveitar os momentos: sentindo-lhes as diferentes nuances de sabor, de cor, de profundidade, de verdade, de ilusão…

Não sei… Mas acho que eu vou sempre achar preferível, sob qualquer aspecto da realidade, um passo de cada vez, a seu tempo, e um passo bem dado, do que apenas ir, fazer, vencer, não sofrer, não perder, não errar. (Não estou defendendo a vida excessivamente regrada – com passos maquiavelicamente preparados – mas, sim, uma vida efetivamente vivida, em todos os aspectos.)