Ainda viajando

Esta viagem última que fiz a Belo Horizonte foi arrebatadora em muitos sentidos. Conheci milhões de pessoas em duas dezenas delas – me aprofundando em quatro, que conviveram mais amiúde comigo durante os dias todos. Adorei a cidade e a vida que se vive na cidade. Mas de tudo, o que mais me tocou lá e depois, já aqui de volta, tornou-se um problema foi justamente a constante presença de pessoas em volta, ali, disponíveis para a conversa, para o abraço, para a brincadeira… Vendo todas as coisas que aconteciam à minha volta – coisas absolutamente “normais” e “naturais” para as outras pessoas –, percebi o quanto me tornei um alguém frio, seco, distante. Não estou reclamando, só me reconhecendo depois de alguns dias de observação.

Eu que já me considerava um cara aberto e acessível, descobri que sou justamente o contrário disso: fechado em minha muralha. Adoro abraços, mas transformei-os em um ritual exclusivo de determinados momentos significativos demais – despedidas, chegadas, tristezas profundas, alegrias raras –; nunca me dispus a um abraço despretensioso. É para o que ele nasceu também, penso agora. Na verdade, é maior que isso. É mesmo a minha incapacidade de tocar outras pessoas. Não por qualquer bobagem injustificável, mas apenas por não saber como. As pessoas se chegavam até mim, me tocavam, faziam carinhos nas mãos ou nos braços, me enlaçavam pelos ombros, pediam carinho e eu, no máximo, repetia seus gestos. Nada, no entanto, partia de mim. Sempre ouvi que os brasileiros são famosos por tocar os amigos, os parentes, os desconhecidos na rua enquanto falam, tornando a relação intra-pessoal algo íntimo no primeiro encontro… e de certa forma, me orgulhava por fazer parte de um povo tão desbragadamente afetuoso. Ledo engano. No meu caso, pelo menos. Mantenho-me distante, na maioria das vezes. E não é o caso de “ser paulista”; meu amigo, igualmente paulista, lidou muito bem com tamanha expressão de afeto. É problema meu, mesmo.

Mas teve mais. Coisas que a gente vai percebendo conforme os dias passam e a reflexão fica menos emocional, dominada que esteve pela saudade infinita.

Eu dancei. Me libertei de vergonhas e dancei. Numa noite, encontrei uma moça sentada num banco, no meio do salão e, inacreditavelmente (para mim mesmo), convidei-a para uma dança. Se ela aceitou por ter gostado do meu jeito ou porque a ética do forró proíbe que uma dama rejeite o cavalheiro que lhe chega de mansinho e a tira pra rodopiar, pouco importa. A minha atitude foi a surpresa. Antes disso, eu dançava escondido na multidão semi-iluminada das casas noturnas, embalado pela loucura das músicas eletrônicas. Lá, naquele salão muito bem iluminado (ainda que preservasse os detalhes das identidades, mantendo o charme da coisa toda), ela olhou nos meus olhos e ouviu completamente meu convite envergonhado, aceitou e se levantou, me levou pro meio da pista, onde outros amigos e amigas dançavam (que também me viam), me olhou nos olhos novamente e sorriu. Depois disso, dançamos. Sem toda a exuberância daqueles que já aprenderam (digo por mim, já que ela sabia muito bem o que fazia e o que estava deixando de fazer), mas dançamos. Dois-pra-lá, dois-pra-cá. E foi ótimo. E ali, com aquela menina, eu descobri um Thiago novo, um momento-Thiago novo.

Teve mais. Mas o que teve não vale a pena contar. É podre demais.

Ah!

Além de tudo isso, essa viagem serviu como um marco das mudanças que vêm acontecendo ultimamente. A principal delas, meu início numa nova escola, como professor de Geografia. Começa mesmo na segunda-feira, com alunos e tudo. Não é a minha primeira vez numa sala de aula, mas está sendo diferente – ansiosamente aguardado.

Dois-mil-e-sete promete…