ain’t no mountain high enough…

É diferente. Quando eu sonho com meus alunos, meus livros, minhas aulas, minhas viagens, vem junto, invariavelmente, uma angústia muito forte de tudo estar muito distante, muito longe – e quero dizer longe no tempo, no tamanho do caminho até chegar lá: virtualmente inatingível considerando o que tenho a dar hoje.

Essa coisa, que tem nome, endereço, número de RG, cabelos negros, lábios convidativos, olhos grandes, ainda que não seja minha, ou melhor, ainda que não esteja comigo (e que por isso ainda esteja na prateleira dos sonhos), não traz consigo essa angústia.

Angústia essa que, veja, não é uma angústia má em si; muito provavelmente, é só um efeito dos arroubos pouco pacientes, muito próprios de minha idade. Mas, apesar de não ser totalmente má, em sendo indiscutivelmente angústia (que numa das definições do Houaiss aparece como um “estado de ansiedade, inquietude; sofrimento, tormento”), incomoda verdadeiramente.

No caso dela, esse incômodo não existe – porque a angústia do não-chegar inexiste. Não quer dizer que o desfecho dessa história toda venha amanhã, mas também não tem como única opção um gran-finale para daqui alguns anos. Há a possibilidade do momento seguinte, do “amanhã, quem sabe”.

O que dá mais um toque especial a essa história que nasceu especial. E tudo junto – ela, a sua presença, a possibilidade do beijo – torna a vida ainda mais vida. Uma sensação de que as possibilidades são efetivamente possíveis – escusada de antemão a redundância.