“Chover (ou Invocação para um dia líquido)”

Estranha essa noite particularmente criativa. Tão estranha que prefiro terminar com ela sem cometer nenhuma imprudência.

Se faço, arrependo depois – quando as coisas voltarem ao normal. Invencionice demais estraga tudo.

Metade da culpa é do Cordel do Fogo Encantado. Música de entranha… Puxa lá de dentro uma força que não sei de onde, que não sei se posso, que não consigo evitar.

Vocês que estão no palácio,
Venham ouvir meu pobre pinho.
Não tem o cheiro do vinho
Das uvas frescas do Lácio,
Mas tem a cor de Inácio,
Da serra da Catingueira,
Um cantador de primeira
Que nunca foi numa escola.

Pois meu verso é feito a foice
Do cassaco cortar cana.
Sendo de cima pra baixo
Tanto corta como espana,
Sendo de baixo pra cima
Voa do cabo e se dana.

Dizia ainda outro dia pra alguns amigos sobre o artifício das letras de música nos blógues. Normalmente é artifício de gente sem assunto. Não dessa vez. Não essa música. Parece poesia declamada. (Precisa ouvir. Ouvir pra apaixonar.) Realismo fantástico – uma Macondo por música. “Lirinha Buendía”. Cordel do Fogo Encantado devia ser receitado pra pessoas que vivem a vida desavisadas da beleza dela. Muda tudo. Mesmo quando é doído e difícil.

Lindo. Simplesmente, lindo.

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