Pela primeira vez desde que começou a despedida do inverno, chove durante horas ininterruptas, com direito a raios e trovões. Sem precisar me concentrar muito, posso sentir o ar se molhando, a poeira baixando e se aquietando no chão – que até outrora se esturricava de tão seco. Chuva é prenúncio de recomeço. Venta muito, também. Pela porta entre-aberta surgem alguns respingos gelados. São duas e quarenta e dois da manhã. Eu devia parar de complicar tudo – e sempre. A vida pode ser simples e bonita como uma noite de tempestade no meio de um setembro quente. Meu pai me ensinou muitas coisas durante esses anos – algumas não tão agradáveis -, mas uma em especial: aprendi com ele a admirar e a respeitar essa força toda. Meu pai é a única pessoa que eu conheço que, diferentemente do “normal”, quando começa uma tempestade dessas, se apressa em sentar na cadeira que há na varanda pra apreciar os raios e a chuva batendo forte e barulhenta no chão seco. Diz ele que meu avô o ensinou. Se essa é a herança da minha família, posso dizer que sou um homem de sorte.
*chove*
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